Aproveito as hora da manhã para existir em paz.
Enquanto parte de mim ainda dorme,
enquanto está quieta.
Desperta, invade o que achei ter dominado,
o conviveo com o oposto,
a contradição, meu outro lado.
Esse que todos tem.
Agora, posso sentir o ar,
gostar da solidão,
tomar um café comigo.
Ler o livro estanque na estante há dias...
Ler a página que quiser, sem a obrigação da ordem.
Sortear uma palavra nele,
alimentar minha vontade de contar quem sou,
do que gosto,
do que não.
Me eternizar.
Pretendo que muitos venham comigo.
Não sou de ficar sozinha.
Este é só um instante, mas vou sorvendo a brandura,
o jardim regado que me faço agora.
Só um instante no universo que sou, entre as partes que sou.
Entre nós duas.
Eu e eu.
Falo de mim, da sensação de sorriso.
Da parceria com o silêncio.
Fico reparando no que nunca paro para ver.
O quanto sou semelhante aos meus.
O quanto são meus.
Descobri que sei rir de mim.
E que gavetas são ingratas,
muitas desnecessárias,
o que fica em gavetas já está morto.
E pretendo vida, muita vida.
Tirar tudo das gavetas, das muitas que tenho.
Entrada e saída, estão no mesmo lugar, aqui,
só há uma porta para as duas coisas.
Vai ou fica.
Eu sempre fico.
Não tenho que sair.
Descobri que nada termina, só pára,
não há borracha que apague um começo,
há, a continuação de onde se parou...
Seguir, a partir daquelas pausas que damos,
para tomar uma água,
um ar,
dar uma volta lá fora, pela vida.
Temos controle sobre o recomeço, nunca sobre o que foi.
é quando precisamos sair,
por que entramos.
Gavetas são para coisas que sepultamos, que fiquem fechadas.
Descobri isso hoje!
E por que não uma foto minha?
Lá vai.
Era comigo que eu estava até agora.
Não tenho cores nesta manhã, mas tenho um sorriso.