Quem sou eu

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Obras publicadas em Antologias Poéticas: Obra:Desconstrução Antologia:Casa lembrada, Casa perdida-Editora AG. Obra: Conquista Antologia:Sentido Inverso-Editora Andross. Obras: Nó e Falta de ar Antologia: Palavras Veladas-Editora Andross. Obras: Lembrança, Intento e Flecha Livro: Banco de Talentos. Obra: Alegoria Conceioneiro para a Língua Portuguesa-Portugal: Se eu fosse lua, fazia uma noite e Os poemas: Entre nós e Medida, publicados na Antologia Poética da Câmara Brasileira de Jovens escritores-RJ Sou brasileira, natural de São Paulo, Capital. Formada em Letras, Pedagogia e Psicopedagogia. Participei de vários concursos literários internacionais e nacionais.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Meu coração de menina,
traz outra menina nele.
É tão estanque,
que canto a canção do amor.
Somos duas meninas,
aprendendo a entender as lágrimas,
aproveitando sorrisos e remindo o tempo.
É tão distante crescer.
É tão constante viver,
e ser um braço que sustenta quartos, abraços, roupas no varal,
vez por outra,
fogão, chão e vassoura.
e ser o outro braço que ensina,
disciplina,
afaga e carrega um universo "menina".
E ser a mão que em concha aquece um copo de leite frio,
e ser isso e aquilo também.
É tão real,
chorar,
perder,
ganhar,
se acostumar com o jeito da vida.
Meu coração de menina, traz outra menina nele.
Estanque.
Distante.
Constante.
Real,
e por ser real,
bate tão forte.
São corações batizados: coração-mãe e coração-filha!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sobre homens e pássaros

Passarinhos,
alguns sem ninhos,
plenos de céu,
como se fosse o último revoar.
No ar,
seguem sem saber
que são criaturas sábias.
Nascem e voam.
Sabem de algum jeito que
cuida deles o Criador.
Homens,
muitos sozinhos,
plenos de si,
com medo do céu.
Sem ar,
certos de que são sábios.
Nascem em gaiolas,
ouvem falar do Criador.
O céu é de ambos,
passarinhos e homens.
Os dois criaturas,
na construção do tempo,
em nenhum momento,
houve menos amor.
O criador modelou,
com mãos talentosas,
o barro juntou.
Soprou,
e do pó da terra,
o homem levantou,
e somos primeiros.
Primícia.
Princípio.
Em nenhum momento,
houve menos amor,
homens que olham os pássaros,
são os que, na construção do tempo,
aprenderam com eles.
Menos ansiosos,
menos medrosos,
mais seguros.
Sentem o vento,
entendem a direção,
arriscam um voo,
estendem a mão.
Homens que dividem o mundo com pássaros,
são os que trazem,
a eternidade no coração.
São filhos,
meninos na intenção,
doçura em tempos maus.
Homens que se sentem pássaros,
não são os que pensam ser livres,
são os de coração cativo.
Voam,
e voltam sempre para o SEU dono.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sou de avessos,

no lado de dentro, devo ter bom acabamento.

Que me desbote por fora,

que falte cor,

mas devo ter nós bem atados,

todos os pontos costurados,

muito embora me retoque todo tempo,

alguns ventos sacudiram minha estampa.

Pouca água, pouco sol, pouco uso, intocável.

Tenho espelhos,

tenho sempre o que dizer.

Sei me ver.

Aprendi a dar nós.

Se me falta a palavra, ainda assim algo fala em minhas tramas.

Falo pelos poros,

pelos olhos,

pelo jeito de tecer-me diariamente.

Pelo avesso.

Ponto a ponto,

fiz-me de retalhos,

me desfiz,

fiz-me de pedaços,

me desfiz,

fiz-me em várias cores, preto e branco, me desfiz.

Me desfaço.

Descobri que não importa muito o lado que todo mundo vê,

cor,

tom,

recortes,

arremates e enfeites.

A beleza está em,

nós atados,

alinhavados,

bem acabados,

todos os pontos costurados.

Viver é ser como uma peça de tapeçaria,

é olhar-se do lado certo.

* Obra publicada na Antologia Poética - Palavras Veladas - Editora Andross - 2009

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

... para quem ainda não sabe muito bem o que é o Natal, a melhor coisa a fazer é perguntar para o aniversariante!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Caro leitor...

Há quem diga que meus versos são tristes, angustiados, tiram do leitor a sensação de sofrimento, de solidão de afastamento... e quiça, algumas lágrimas!
Fruto do seu coração, caro leitor!
Nada mais faço do que ajudar a revelar emoções, sou um holofote sobre as palavras que ajunto.
Sou poetisa de gavetas, intimista, não nego que escrevo o que sinto e revelo uma parte de mim, e a outra parte também.
Há quem diga que são bonitos os versos, sensíveis, despertam a Lira de Orfeu!
Fruto do seu coração, caro leitor!
Nada mais faço do que examinar-me para escrever, mas as sensações são de quem lê.
Há quem diga que devo ser menos anônima, mas todos temos as nossas gavetas, nossos segredos, e coisas impublicáveis, e confesso, há versos que nunca serão lidos.
Quem sabe serão versos póstumos...se alguém abrir a gaveta em que estão, quando eu não estiver mais aqui.
Devo dizer, tenho cumprido minha missão. Desnudar o leitor, na verdade o seu coração...
Embora reconheça tudo o que dói em mim, continuo me curando.
Embora reconheça que não há amor ideal, continuo nesse esforço de não colecionar desafetos.
Embora reconheça o que é mal, continuo animada em entender e fazer o bem.
Embora reconheça que há limites, não paro achando que é o final.
Escrevo.
Faço poemas.
Parte de mim deseja, profundamente, partilhar um universo que guardo comigo, e a outra parte também!
Caro leitor, que sejam meus versos uma descoberta de caminhos em seu interior... uma forma de, na quietude da leitura, reavivar sua alma...

3h00

Começo a entender o silêncio,
não vem o sono e na ausência dos
sons familiares, só os ruidos da memória.
Deve ser necessário esse despertar superlativo.
Atrever-me a estar comigo,
e em vez de sonhar,
conviver com a realidade desnuda, acordada!
Que fosse desobrigação dormir,
fechar os olhos,
mercadejar a vontade,
encontrar verdades,
me vejo tingida da sensação solitária do silêncio.
Sou candidata a ganhar essa madrugada inteira,
pensando que sou uma colisão entre meus sims e nãos,
sempre antecipada ou atrasada, nada exata em nada.
Silêncio incômodo,
Acho que vou cantar para nascer o sol...
ele virá de qualquer forma, cantando ou não.
Acho que vou escrever para amanhecer,
ela chegará de qualquer forma, fazendo brilhar ainda, a última estrela.
Acho que vou contar as batidas do meu coração,
ele continuará seu compasso...
Começo a me confundir no silêncio,
sons diferentes, memória calada,
deve ser necessário esse estado ancorado, cativo.
Presa ao relógio de pulso,
que grita comigo...02h49.
Vai dormir criatura!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pausa necessária

Se eu me calasse,
faria reverência a sobriedade,
teria mais serenidade,
e a direção exata para a descoberta de todos os "ocos" que arquitetei.

Se eu me calasse faria uma despedida das sombras,
aceitaria a luz sem tentar explicá-la,
teria um encontro comigo,
desses que encara um coração ingrato,
dizendo, às claras, quem sou.

Se eu me calasse,
saberia a beleza das horas solitárias,
a "meninice" de um beijo no rosto,
e o profundo bem-vindo do toque de alguém,
sem tentar me proteger.

Se eu me calasse saberia fazer música,
com letras sossegadas,
e melodias de alívio.

Se eu me calasse identificaria o sagrado,
jamais revelaria um segredo,
teria gestos mais "azeitados",
saberia mais sobre o valor do outro.

Se eu me calasse,
não desejaria tanto ser vista,
seria livre de ansiedades e saberia
viver um dia de cada vez.

Se eu me calasse,
saberia mais sobre o amor,
sobre ser mortal,
sobre o tom certo de uma conversa.

Se eu me calasse entenderia o divino.

Se eu me calasse,
teria mais amigos,
mais idéias,
mais tempo.

Se eu me calasse iria saborear o doce que há em tudo, quando começa...

Mas...continuo falando.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Superfície

...nas mesmices do dia,
estancando as hemorragias sentimentais,
as avalanches das fragilidades,
disfarço a imagem de olhos que não dormiram.

Enfraqueço a solidão,
pedindo notícias,
misturando o medo da vida com alguma coisa doce.

Fico vendo horizontes,
vendo quem passa,
reparando na cores,
repassando a sensação feliz do vento quente no rosto,
do coração lavado,
rememorado.

Do que é simples,
gosto de uma bala,
do café,
de um bate-papo alinhavado.
De rir do que é engraçado,
de desejar uma casa grande,
uma sala grande,
uma alma grande.

Jardins e raízes.
Céu e teto.
e muitos registros do tempo que virá.

Fico "resonhando"...

Mas volto as mesmices do dia,
e preciso, chegar logo até a superfície, para respirar um pouco, mantendo fértil meu coração!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um dia cansado

Não sai agora, ainda não calei a mente,
e você sente o movimento do destino.
Te ensino o que meu coração sabe,
abre os braços,
abre os olhos,
crie asas ,
vai pra casa.
Não sai agora que atravessou meu caminho,
que me fez comemorar a paz,
ainda não calei a mente,
vai pra casa, e sente.
Lá tem ar,
lugar para o amor,
onde a vida se refaz,
esquece que conhece a dor.
Vai pra casa e me espera chegar,
se na guerra ou na paz de um dia cansado,
não sai agora, vai pra casa...

domingo, 16 de novembro de 2008

Sobre o amor...

Quisera eu ter parte do coração em labaredas e a outra em questionamentos.
Coração de quem ama é despedaçado, repartido, um segredo e um reflexo da verdade.
Quisera eu ter certezas, ter caminhos seguros e não ter que trançar todo tempo os sentimentos.
Difícil tarefa, desfazer as tranças e laços e nós e de quando em quando perceber as brechas e represar a solidão.
Quisera eu saber lidar, sabiamente, com a "magreza" do tempos que só resta a perseverança e a necessidade de sobreviver.
Difícil tarefa, ter boa vontade, paciência e fé de que o amor se regenera e se refaz.
Refeito.
Quisera eu ter menos defeitos, quem sabe o amor seria mais alcançável, menos árido, mais paupável.
Indissolúvel quem pode dizer do que ele é feito? da substância mais inflamável que pode haver, corroi fria e docemente o coração humano.
Difícil não estar na trajetória da "bala" nem no "olho do furacão" pois o corte e o sangue são inevitáveis.
Quisera eu ter mãos que curam o meu coração, não tenho.
Outros me alcançam.
Quisera eu ter imunidade, não tenho.
Quisera eu saber futuros, destinos, me antecipar ao risco, não sei.
Quisera eu saber como seria se meu caminho fosse outro.
Pela exigência o tempo me traz saudades.
Quisera não tê-las, são indomáveis.
Sobre o amor,
não sei nada.
Quaisera soubesse!

Vitor Hugo

O AMOR não conhece meio termos; ou perde, ou salva. Nesse dilema se resume todo o destino do homem: ou a perda, ou a salvação: nenhuma outra fatalidade no-lo apresenta com tamanha inexorabilidade como o amor. O amor é vida quando não é morte. É berço e túmulo. O mesmo sentimento diz sim e não no coração do homem. De todas as coisas feitas por Deus, o coração humano é a que desprende mais luz e mais trevas.

Victor Hugo em "Os Miseráveis" - livro oitavo, Encantamentos e Desolações - Editora Cosac e Naify.

* pensando sobre o Amor, achei um sensato comentário dele...

domingo, 26 de outubro de 2008

Ana Carolina

Acho que Deus um dia olhou lá de cima e confiou em mim!
Confesso,
antes dela,
eu não sabia muito bem as dimensões do amor, mas tenho aprendido...
não lamentar o tempo,
não apressar tanto o passo,
não me torturar pelos erros,
nem me deixar tão segura dos meus acertos,
não fazer só orações, ter ações no meio delas,
não perder a memória da minha infância,
não me assustar mais com a vinda da maturidade.

...tenho aprendido.
Perdoar é preciso,
paciência é necessária,
muito carinho recebido,
nem sempre ofertado. (desdobramentos de quem cuida de si mesmo.)

...tenho aprendido, não tenho o tempo que gostaria,
nem brinco tanto de princesa,
passamos pouco batom,
pouco tempo no banho,
pouco cantamos juntas, comemos juntas, rimos juntas,
entre a doçura e a repreensão, sempre vai uma lágrima minha.

...tenho aprendido,
a deixar formatos pueris da minha presença,
em todos os cinco minutos que tenho com ela.

...tenho aprendido a esculpir seu coração com a minha voz,
com o meu olhar,
com a força divina das minhas orações de socorro, se não sei o que fazer.

Confesso, não faço como gostaria,
não estou onde gostaria de estar,
e tento viver a ambivalência de um coração-mãe,
que traz sua filha nele...

...mas Deus, sabe bem como "converter" o coração dos pais a seus filhos,
e de seus filhos a seus pais, nessa vida de sobreviventes e remendos.

...tenho aprendido, a esperar: "só mais um pouquinho mamãe"...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Falta de ar II

Não há palavra o silêncio desertifica o momento, faltam muros para a "defesa".
Um abrigo, desses duradouros, impermeáveis,
de uma inteireza única.
Ficar ali.
Civilizar o deserto, fazer de si mesmo uma fortaleza.
Ser ora um caminho, ora uma muralha.
Ser ora habitável, ora não.
Só quando não há palavra e o silêncio congela o momento,
se ve como falta verdade para encarar as coisas como são.
Só quando não há palavra sabe-se o valor do discurso,
e a afronta do silêncio.
Falo de coragem,
de limite,
da luz e da sombra que se projetam em nós.
Palavras, são as flechas lançadas,
ora com força, ora sem alcance.
Palavras são as inadequações daquilo que temos que explicar,
coisas não ditas,
falas impróprias,
eloquências legalistas.
Só quando faltam as palavras notamos o quanto consumimos de silêncio.
Ter nó na garganta é o acúmulo do "não dizer".

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Falta de ar

É assim.
O nó na garganta.
A missão solitária de ser "irrepetível",
O ser o que sou, como sou.
Sem vestimentas alheias,
só com a pressa da honestidade, não da perfeição.
Por onde eu for haverá:
gente melhor do que eu,
mais bonita do que eu,
mais inteligente do que eu,
mais competente do que eu,
mais novas e mais velhas...
Para quem tem a eternidade em si, saber-se transitória,
reforça o que é "urgente".
Depois de alguns trajetos,
e do jeito que aprendi,
só meu coração pode fazer exigências.
Só ele deixo que me cobre ser melhor,
não a melhor,
ser bonita,
não a mais bonita,
ser inteligente,
não a mais inteligente,
ser competente, não a mais competente,
e viver bem entre mais novos e mais velhos.
Só meu coração é juiz das razões escondidas nas escolhas que faço.
Hoje, escrevo, não por talento,
por vontade,
por domínio,
mas para tentar desfazer esse nó na garganta.

*Obra publicada na Antologia Poética - Palavras Veladas - Editora Andross - 2009

domingo, 5 de outubro de 2008

Qualquer um

E quando não "sou poeta", não sei do meu destino.
Desatino sem a letra,
desafino sem canção.
Sou repleta de desvios.
Meus atalhos são retalhos,
de um caminho.
Despenca meu horizonte.
Quando não "sou poeta", não sei o que sou.
Tenho sempre, um "não sei que" que me afronta...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Para os meus...

Não nego a graça dos céus, meu coração reconhece e sabe, e certa de que há lógica na vida, Deus me viu e disse: "É aqui que vai ficar!" e imagino que sorriu, satisfeito e seguro de sua decisão. Minhas palavras de hoje são gratidão e saudade.
Vasculhando minha memória, já que tenho "gavetas", quantas tenho aberto para reviver as sensações e reativar o sonho, "cafuné" que me permito, parecendo real o gosto da pamonha doce, a mesa do café da tarde, cocada assada e tantas outras coisas que recheavam a vida que estava por vir. Não haveria mesmo outro lugar, Deus tinha razão.
Impensável, não passar os Natais juntos, algumas férias na praia, e as brincadeiras entre primos, de nomes sonoros e de corações prontos para amar. Brigávamos? sim brigávamos, mas a vontade de "paraíso" era tão grande que a briga virava abraço e um rápido pedido de desculpas, para não se perder tempo. O "barracão" era palco de tantos encontros, hoje, foi reformado, mas ainda estão lá, as cenas de tudo que vivemos. Não existe mais a Ignácia, mas quem não se lembra dela? (um espanador verde que era brinquedo para nós...) A torre de energia, que subíamos na tentativa de crescer ou talvez, ver as coisas de cima ou entender as reações adultas dos que nos viam assim. Em lugar das jaboticabeiras, uma piscina, mudou a paisagem. Essa casa, ainda existe, mas nunca mais senti o gosto do maracujá doce que colhia na hora, mas posso ouvir o barulho dos aniversários e das nossas brincadeiras na piscina de plástico. Havia celebração na casa do tios, sempre era festa quando todos se encontravam. Do patins fomos aos passeios no Alvorada, e aos primeiros ensaios da juventude as coisas tomavam outro ritmo. Gaveta dos que se foram: tios muito queridos, pais e pessoas que conhecíamos, e nós nos encontrávamos também nessas horas doloridas, com o mesmo abraço de sempre, aquele rápido, mas enlaçado de amor.
Deus tinha razão. Não haveria lugar melhor, do que este. Lembranças engraçadas, com licença ao "autor", mas era engraçado ver uma pirâmide sobre a cama e as suas coleções estranhas. Todos tínhamos nossas esquisitises! Todos ainda temos. Foi estranho ver a prima engessada, porque quebrou a cravícula, e chato, não podíamos sair. Alguns, quando pequenos pareciam pequenos querubíns de tantos cachos loiros...hoje, não há mais cachos, mas conservam a essência dos querubins. Ainda nos tratamos assim: "gêmelas", e de fato acho que somos. Vi alguns primos bebês e hoje com bebês nos braços, com a evidência de suas escolhas, uns com as pessoas que escolheram, outros sem elas. Uns ainda na *"Cidade Ternura", outros poetas, músicos, veterinários, fisioterapeutas, farmacéuticos, professores, advogados, programadores, médicos, enfermeiros...mas todos profetas da promessa que se cumpre, família.



* Cidade Ternura: como é chamada a cidade de Tatuí, nosso lugarzinho no mapa...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Desvio

Atentos! quem vai em busca de um Shangrilá, deve saber: não há.
Sempre voltamos, mais calmos, mas sábios e com saudades, porque o "mundo" nunca mais será o mesmo.
Nada é a mesma coisa se não é mais a mesma coisa em nós.
Atentos!
Sempre voltamos.
Com mais cicatrizes,
com mais histórias,
com mais laços e com mais desculpas e, nem sempre inteiros.
Voltamos mais cansados,
mais sofridos,
mais amenos.
Mais lapidados e mais honestos.
E quando vamos, só o "para sempre existe".
E quando voltamos, vazios de eternidade,
ficamos muito mais atentos,
certos de que bom, era onde estávamos,
e que melhor será, para onde iremos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Em tempo...
De fechar os olhos,
de reconciliação,
de aconchego,
de juntar as forças.
Em tempo,
de fazer história,
de mudar caminhos,
de novas orações,
de cooperação,
de doar-se,
de amar,
de enxergar ao redor,
de falar as coisas,
de repousar a fé,
de ter mãos e obras,
de ter pão de sobra,
de oferecer.
Em tempo de
ser resgatável,
de revolver a terra,
de jogar sementes.
Em tempo de viver angústias que não são nossas,
de chorar a dor do outro,
de cessar a lágrima de alguém,
de andar sob a sombra da cruz e,
exorcizar as inquietações internas.
Em tempo está, um coração que não pretende grandes coisas,
nem coisas maravilhosas demais,
mas que tenta, calar e sossegar a sua alma,
nos braços calmos do Pai.
Em tempo, estão todos aqueles que entenderam que somente existir não basta,
mas é preciso viver!

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Reforma

Devo avisar, ainda não acabei.
Como desenhos em rascunhos,
telas pela metade,
tarefas começadas,
poemas por terminar.

Devo avisar, estou em obras.
Como muros por levantar,
gavetas por arrumar,
Como letras por "musicar",
danças por aprender,
coisas por esquecer.

Estou em obras,
como doença por se curar,
pessoas por gostar,
esforços por empreender,
fracassos por vencer,
sorrisos por doar,
insultos por perdoar,
exigências a cumprir.

Estou em obras e devo avisar, não sei se elas acabam...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Diferente

São as horas que a noite traz,
as lágrimas de uma saudade longe, tão longe...
São lembranças embalsamadas nos longos momentos de conversa.
São apertos no coração, desses que dói o peito com qualquer som familiar.
São as dores de quem quer falar, falar CONTIGO como antes.
E o tempo passou,
e o vento mudou,
há cansaço na alma,
há tristeza,
há estranhesa.
São as horas que a noite traz,
minutos solitários sem ninguém.
E o tempo mudou,
e o vento passou,
há cansaço na alma,
há tristeza e estranhesa.
É a data da maturação,
do que não é previsível,
de não ter somente os joelhos no chão.
É o diálogo de um coração "menina"
que, bem aqui dentro, só quer acolher a doçura da SUA VOZ.
Porque sabe, o quanto o choro pode durar uma longuíssima noite,
mas, que a alegria chega pela manhã.

* não há mais aquelas longas conversas no meio da noite, mas DEUS sabe ler!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Borges

Começo emprestando um verso: ..."*o mundo, infelizmente, é real e eu, infelizmente sou Borges."-Jorge Luís Borges

E eu infelizmente, sou real e o mundo, infelizmente se fratura.
Coisas e pessoas que infeccionam os sentimentos e as ações, sob protesto digo "sim", mas por dentro fervilha a substância de que sou feita. No silêncio sinto a transbordante insatisfação da dependência. Para tantas coisas perdi a pressa, de outras coisas desisto aos poucos, dessas coisas eu desisto mesmo, essas que não respiram mais...
Sei contar somente até 3: 3 minutos, 3 dias, 3 anos, 3 décadas depois dessa conta amasso o papel e pego outra folha em branco.
Tantas vezes cansada, ainda me lembro que há ALGUÉM que me ama sem que eu precise provar nada.

...e o mundo, infelizmente, é real, e eu, infelizmente sou Eliana!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Essencial

Despretenciosa sem comparações,
busco nas palavras o desejo de reluzir, já que me apago de medos.
Não penso mais no mágico, mas no que é deste dia.
No outro dia, nada de mágico.
Busco a coragem renascida, refeita, um remendo na parte mais dolorida de mim.
Tenho algemas que ninguém pode ver e pensam que sou livre.
Diariamente domesticar a sensação de inexistencia,
acatar às ordens de um grito imaginário,
e não se aquietar.
Busco sentir-me batizada todas as manhã, agradecer e seguir, plena de eternidade.
Não sei mais correr, me canso e me vejo entregue e mais um passo, calmamente.
Do insólito ao rígido confronto: viver.
Busco entender,
e penso,
no honroso saber que meu coração guarda,
no que aprendi a pouco,
no que nem sabia que estavam ensinando.
Meu verbo principal é conhecer.
A mim,
aos outros,
aos muitos rostos que ainda nem imagino existir.
Busco passar por aqui sem alardes.
Que eu possa resignificar o que sou.
Ocupadíssima, sempre, com a missão de ter fé.

* concorrendo no Concurso Literário Livraria Asabeça - resultado em 2009

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Socorro

Que doçura me vai pela alma?
Vejo que contarditória é essa "senhora".
Alma minha, dona das forças e das amarguras.
Que doçura pode haver em sempre estar insegura?
Trajetórias isoladas.
Retornos festivos.
Contraditória "senhora".
Expõe o mal que se converte em bem,
que quando cansada, olha para o alto,
que quando aflita, olha para o alto,
que quando triste se faz em deserto, e olha para o alto,
que nas injustiças intui verdades e olha para o alto,
que nos extremos de humanidade,
que nas sobriedade dos diálogos da madrugada, olha para o alto.
Que doçura pode haver em tão grande desavença?
"Se o mal que não quero faço e bem que deveria fazer, não faço?"
Mas embora tão contrária a si mesma, olha para o alto.
Pois não conhece o que não vive.
Há riscos e nada é seguro, exceto, se olha para o alto.
Há luz no rosto, se há luz na alma.
Há dor no rosto se ela dói também.
Verdades incontestáveis.
Na imprevisão de seus movimentos, olha para o alto.
Na tentativa de perenizar o que vive, enverniza sentimentos.
Mas acaba, se vai, esvanece e passa.
Alma doce, diante de tantos nostálgicos momentos de virtude,
e tantos outros declínios, somente,
se continuar olhando para o alto.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sem título

Preciso crer que não só eu mais muitos são frutos da obviedade.
Que muitos daqueles que amo, também tropeçam em seus próprios cadarços.
Que nem sempre conseguem manter a língua sob controle,
e que o vértice de si mesmo, seja si mesmo.
Que falta coerência vez por outra,
falta bondade também,
que sejam cumplices da trivialidade,
humanos e não divinos intangíveis.
Preciso crer que choram com poesia,
e que também carregam dores que são sólidas,
que passam por coisas que exigem seu sono.
Que assim como eu, pensam vinganças,
já tiveram sonhos eróticos,
já fizeram coisas "indizíveis",
já defenderam causas,
e de tanto que sonharam, hoje convivem com a inocência desgastada.
Preciso acreditar em pessoas comuns,
no perdão das minhas falhas,
e das novas falhas,
e de outras...
Preciso não ter medo de errar,
de viver tentando fazer o melhor,
refazendo o que achei que fosse melhor,
desistindo do que nunca foi o melhor.
Preciso que acreditem que as minhas insensibilidades foram despercebidas,
e outras propositais,
e outras fruto de dor...
Preciso de pessoas que não questionem os meus "pôrques",
que não vejam que só sou insensatez, pôrque não sou!
Que não concordem mas continuem me amando.
Mesmo que eu não tenha mais filhos,
nem seja convencional,
e mude meus valores.
Preciso acreditar que os que amo são comuns, "sujeitos as mesmas paixões" que todos são.
Preciso de tempo, de espaço, de ar.
Preciso acreditar que *"...vou amadurecer, caso consiga... e que vou envelhecer, pois é preciso".


* citação de André Comte Sponville

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Evolução

Em tempos assim,
como coexistir com os que conhecem sinfonias, sabem reproduzir sons afinados das melodias,
fazem descobertas científicas,
são tantos que dominam a arte,
a poesia,
trazem a existência coisas inimagináveis,
exorcizam as sombras,
rejuvenescem pessoas,
mudam a cor da pele,
criam um mercado de carbono para vender e comprar o ar.
Em tempos assim como coexistir com os que fazem vacinas,
curam doenças,
escrevem teorias,
estudam os movimentos do universo,
descobrem estrelas e vão até elas.
Em tempos assim, como coexistir com as grandes invenções,
a modernidade,
a rapidez,
a prontidão?
Com a inteligência sempre vestida para uma festa.
Como coexistir com a primícia da criação?
Em tempos assim ainda há fome,
muitos que não podem ler um poema, uma carta, uma letra, seus direitos.
Em tempos assim, muitos morrendo a espera de ajuda,
lixo que vira comida,
crianças soltas na vida.
Em tempos assim,
tantas condenações, tanta ausência.
Como coexistir com tanto poder e nenhum coração.
Em tempos assim ainda precisamos gritar por socorro!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

...em vasos de barro

Se não tenho respostas penso que não há lugar para pequenos sentimentos.

São os enormes que me invadem.

Milhares, muitos.

Ter pés descalços é um tranquilizante.

Escrever enquanto espero é angustiante.

Pois espero mais do que escrevo.

Escrevo o que não sou,

e dizem que sou um fingidor.

Estou esperando por isso.

Pelo dínamo da palavra pois me faço floricultor.

E dou cor ao que era só branco.

Derramo água no desencanto, se sede há encanto outra vez,

se seca, a terra se faz estéril.

Se nada nasce desta espera, inútil seria esperar.

Meus pequenos sentimentos habitam um mundo sem alarde,

não tenho muitas histórias para contar,

só conheço pessoas comuns,

e tenho vontades impossíveis.

Concluo coisas elementares,

sei o que todos sabem,

que a vida é breve e frágil.

Os grandes sentimentos que tenho estão em moldes sem perdão,

neles me falta tempo,

me falta afeto,

me falta vontade.

Neles a brevidade se faz em onipotência,

são enganos,

são filosofias, teorias,

são conceitos.

Não há lugar para saberes comuns

pessoas comuns,

vontades comuns.

Ninguém sabe o que sei, que a vida é um caminho de pólvora,

de olhar que tece o afastamento,

a solidão,

o isolamento.

Pois fico com os pequenos sentimentos, que cabem em moldes de barro,

são quebrados,

refeitos,

reeditados.

Pois há um Oleiro.

Os pequenos sentimentos me salvam de um mundo de vaidades,

Os grandes sentimentos me condenam a maldade.

Mais uma vez sei que tudo o que eu sinto emanam das fontes do meu coração enganoso.

sou feito de grandes e pequenos deles. (sentimentos)

E quando penso na cruz, sempre me assusto, pois não entendo o espinho.










quarta-feira, 23 de julho de 2008

Filhos de Orfeu

São contraditórios,
otimistas e pessimistas,
trazem algemas de amor e estão presos na história.
São as pedras no caminho de muitos,
guardiões alados das palavras,
tem sempre um "que" de anjo, pois
conseguem "ouvir estrelas",
estar em montanhas,
descrever a lua seja em qual noite for,
sentem diferente, o vento que todo mundo sente.
Se solitários, não amedrontados,
nas ausências continuam seres meridianos.
Não esquecem de atualizar seus sonhos,
Fracionam a existência, sabem que viver de uma vez,
não os canoniza nem os faz profanos.
Proclamam.
Choram ao som da lira, verdadeiros filhos de Orfeu.
São eles que temperam a vida com seus verbos "magos".
São os que indicam caminhos e contam passos.
Apologéticos e justos.
São alvos fáceis da admiração e do ódio.
Poetas e Profetas não obsolescem,
não permancem com o coração cru,
são incansáveis promotores do incômodo.
Poetas e Profetas seguem sem diferença e chegam ao mesmo fim,
serão, ambos, julgados pela história, diante do mesmo Justo Juíz...
"Vinde a Mim ou Apartái-vos de Mim"

*poema inspirado no texto de Ricardo Gondim - Poetas e Profetas
* concorrendo no concurso Literário Livraria Asabeça - resultado em 2009

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Falso cristal

Que ninguém se engane com esta brandura.
Com minha quietude e doçura,
com meu tom de voz.
Que ninguém se engane com meus passos lentos,
com meu jeito de olhar,
com a minha respiração,
com as orações que faço,
com o meu sorriso,
com a concordância,
com a complacência,
com a minha lassitude, nem com este "ar" lesto que vai abreviando as coisas.
Que ninguém se engane com meus anúncios de sobrevivência,
tampouco com meu silêncio indiferente.
Que não engane a ninguém nada mudar, externamente, em mim.
Não é paz.
Porque, aqui dentro, na minha alma, sou beligerante.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Destino

Sinto medo.
É tudo o que não posso controlar,
minhas decepções,
algumas coleções de desafetos,
meu jeito quieto.
Tenho medo de perder tempo,
de não perceber,
de não amar direito me defender.
Me assustam os medos que tenho.
Me dispo de mim,
meu completo declinio é ser meio a meio.
Sinto medo do silêncio, prenúncio solitário.
Medo de encarar as marcas do tempo,
de ver cansaço mais do que o repouso,
de saber que meu corpo é limitado.
Medo de chorar,
de sentir dor,
de ser vista.
Medo de não ficar bem, tento iu não deficidade.
São coisas que não posso controlar,
os próximos minutos,
o dia seguinte,
o que sentem por mim.
Quantas batidas meu coração aguentará,
estar segura,
manter-me simples,
não ter nada além, nada aquém do que preciso.
O que serei na velhice?
Como estarei até lá?
Que pessoas chegarão ainda,
quais irão embora, e quando.
Por quais coisas ainda irei passar?
São rotas de medo o que sigo.
Sinto medo, porque não posso acrescentar um *côvado que seja, ao curso da minha vida.

* s. m., medida de comprimento, antiga, equivalente a 66 cm.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Turquesa

Saudades dos olhos cor de céu...
da folia,
do salto "lesto e seguro".
Saudade de como dormia.
Esta saudade é particular, não há quem possa sentí-la.
Saudade de quando vinha me encontrar, como se eu fosse uma igual.
Só queria um lugar quente para se enrolar, servia qualquer colo.
Mas se sentia saudade, só o meu colo servia.
Durante toda a tua vida, devia-te uma poesia.
Pena, não poderá ouví-la, por certo entenderias.
Mesmo sem palavra alguma, falávamos tanto.
Bastou-me tua existência, para entender esse apego.
Fez-me tanto bem, vê-la crescer, envelhecer e chegar a hora de ir.(embora tenha doido...)
Há quem não entenda algumas saudades como esta de um bicho.
Mas eu entendo e, tú também entenderias...

* poema simples demais para falar da minha siamesa de 11 anos que se foi mais cedo por causa de um cancêr...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Objetos e afetos

Das minhas paredes fiz um quarto,
do meu sono, poucos sonhos.
O meu teto é meu limite,
minha casa é alegre e é triste.
São as coisas que tenho, objetos e afetos.
São coisas que não funcionam,
mas estão lá, no canto, no alto, em gavetas.
São as coisas que aguardam quietas e imunes por outras coisas.
São "coleções" soberanas, cheias de histórias.
Atravessam cada nova jornada,
estão na bagagem, na paisagem, nas mãos.
Atravessam o tempo,
morremos e elas ficam, ainda, falando de nós.
São bem maiores do que são,
algumas nos fazem reféns,
outras são nossa memória,
outras não sei.
Objetos abrigam afetos e nunca sairão de onde estão.
São coisas que não funcionam, mas que precisamos tanto.
São as provas da nossa travessia.
Uma forma, incompreensível, de manter preso o "gênio na garrafa"...


* vai ver por isso guardamos tantos "cacarecos"... na tentativa de eternizar a história.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Descontrução

Da casa onde morei trouxe caixas e lembranças,
amarrei com as fitas a esperança e fingi como ninguém que não era dor ao fechar a porta.
Distante do que vivi, das coisas que aprendi, das paredes que construi contei meus passos pelo caminho.
Ficaram lá as marcas dos porta-retratos, dos móveis, das coisas familiares, do desgaste e do contraste.
Uma "desconstrução" dos desafetos.
Fiz as malas e as falas se calaram.
Vi distante as paredes que deixei.
Me deixaram.
Trouxe as caixas,
minhas coisas,
também voltei.
Agora estou em "reforma",
tenho novo endereço,
novo afeto,
novo teto.
Entre a face molhada e o desamarrar da esperança
faço nova construção,paredes para o meu coração.
Arrisco sorrisos e digo "não".
tenho limites,
tenho defeitos,
tenho refeito a passos lentos, outro trajeto.
As caixas serão abertas,
a vida será exposta,
dia-a-dia,
aos poucos,
sem pressa me tornarei "habitável".

* 1º lugar no XXIV Concurso Internacional Literário AG - junho de 2008 publicada na Antologia Poética "Casa lembrada, casa perdida"

terça-feira, 24 de junho de 2008

Contraponto

Ela simplesmente aparece.
Faz uma confusão da espera.
Quem governa quem?
Ela vem como se fosse bem-vinda,
fica.
Fico sem saber,
o que fazer e não fazer.
Fica em pensamentos repetitivos,
impondo a sua presença indócil,
encurtando o tempo que tenho.
E tudo vai ficando imperdoável.
Confronta tudo o que já consegui entender.
Me faz duvidar do que acredito.
Fico incerta.
Desmedida.
Insolúvel.
Nem feia, nem bonita.
Mistura todos os meus "não sei porquê",
e deixa a faxina para eu fazer.
Ela simplesmente desaparece.
Se vai,
mas não leva tudo.
Deixa a dúvida,
deixa as horas,
deixa tudo com cara de "impossível".
Fico imprópria.
Reduzida,
sem fé.
Parte de mim é grandeza a outra afronta.
Parte de mim é certeza a outra deveria ser.
Parte de mim é mansidão a outra angústia.
Parte de mim é silêncio a outra também.
Ela é assim, essa parte "invasiva" de mim.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Bandeira

Eu sei que empresto versos...que mal há?
Espero emprestar os meus, vai este de Manuel: "...mas um torpedo suicida, daria de bom grado a vida, na luta que não lutei"

quarta-feira, 11 de junho de 2008

12 de junho

Existe um dia para celebrar o "amor", justo, merecem!
Mas, fico aqui pensando... o que comemoram no dia-a-dia quando não é dia de nada?

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cabe agora um esclarecimento.

Nem sempre tenho os versos comigo, se é que os tenho. Muitos chegaram na "pena" de outros poetas, justo, já que são livres e não se prendem ao estilo, nem a regras nem a vontade do poeta.

Confesso minha "inveja" ao ler versos que não são meus... mas também confesso, apludir muitos deles e admirar "as casas onde moram" (os autores).

Não faço tanto uso da licença poética, nem abuso do meu estilo, acho que não arrisco e sei-me linear e intimista. Nem mais nem menos. Sou comum...

Comum nas dores que tenho, nas minhas confusões, nas coisas que aprendo e em tudo que odeio e, juro que tento escrever agora sem que isto vire poema, só uma breve confissão.

Me admiro também, acho que escrevo bem e muitas vezes muito mal. Fico feliz em saber que um poema meu foi lido por aí. Fico triste quando ninguém fala nada, afinal minha intenção é deixar uma impressão.

Gostaria de saber fazer crônicas, escrever histórias, criar reinos e levantar bandeiras, como diz Adélia Prado, mas aceito o que tenho e tento a "expressão" e a "impressão"... dou meus recados, acho me basta esse prazer.

Por tudo isso, agora, "consigo estar contigo" *


* nome de um livro de poema de alguém

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sem casa e sem destino

por Ricardo Gondim

Há momentos que Deus me expulsa de dentro de mim.
E assim
Sem casa e sem destino, compreendo o meu fim
e sei que não sou divino.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ai essa palavra que me rodeia,
faz festa, infesta minhas linhas retas.
Resta um ponto, uma questão.
Palavras são resumos de uma vida inteira.
Meia palavra é a solidão do verso que não larga do poeta.
Ai que festa sem barulho,
não ter o que dizer.
Uma comemoração do nada,
um convite em branco,
conformado,
mofado,
sem endereço e nem razão.
Nenhuma palavra com tantas?
Silêncio anunciado?
Não deve ser um poeta quem está aqui.
Calar-se não é deles...
Ai que festa é a palavra certa.
Dói,
Cura,
Reverbera.
São inteiras para serem plenas, as palvras certas.
São certeiras,
sem pudores...
Elas são.
Calado?
Se não for um poeta, está desculpado!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Esquizofrenia

Junto a mim tenho palavras...
Sou voz e as vezes verso.
Sou vento que leva a frase,
na farsa de fazer de conta.
Sou tempo que faz misturas,
fazendo assim,
faço o que posso.
Junto a mim tenho palavras...
Vontade e volta.
Vai a verdade,
um ser vivente,
de olhos verdes...meio vadio.
Junto a mim tenho palavras...
Ensaio falas,
Especialmente as que me calam.
Espero tanto,
Estou aos prantos.
Estou ao meio.
Junto a mim tenho palavras...
Ana
Brasil
Calor
Deserto e dor
Encanto
"Éfe"... (com licença poética)
Gato
Horas e horas e horas
Insesantes intentos
Jaboticaba no pé
Lindas...
Mais além tem mais
Nada.
Oscilantes objetos os óculos em olhos cansados...
Para que?
Quero
Razão
Sandice
Tentação
Um, dois três...
Vestido de festa.
Xadrez?
Zum, zum, zum de palavras junto a mim.

domingo, 4 de maio de 2008

Algumas explicações do amor pelas palavras...

"Poesia é o impossível feito possível. Harpa que tem em vez de cordas corações e chamas”.
Garcia Lorca (Este é o prólogo)

”Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.”
Cecília Meireles (Motivo)

“Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.”
Mario Quintana (Caderno H)

“Meus versos são meu sonho dado.”
Fernando Pessoa (Meus versos são meu sonho dado)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Manifesto

Espero por mim ...
Nem ser mais nem menos do que sou.
Espero aprender que sabendo, nunca sei, e aprendo mesmo.
Por sobrevivência,
por coragem,
por precisar respirar.
Espero não perder a doçura nos dias áperos.
Nem tecer desafetos gratuitos.
Tenho um sorriso e tanto, afinal.
Embora conhecer não seja encontrar, haverá sempre uma busca,
um silencioso procurar no meu interior aplainado.
Tenho endereço, lugar para chegar e barulhos familiares... e por estar segura, respiro profundamente.
Espero que leiam meus poemas,
me ouçam um pouco,
e me ajudem.
Quem não precisa de amparo?
Nas minhas cegueiras,
nas minhas tentativas inglórias,
nas encostas dos pensamentos novos,
espero compreensão,
outras mãos,
e outros passos.
Na minha sabedoria, do que já vivi,
freei os rompantes e continuo acreditando em quem já foi mais além.
Espero ter muita fé.
Dessas que não habita só igrejas, mas vai pelo vento batendo no rosto,
pelo por-de-sol avermelhado que sempre reparo,
na diversidade de sons e cores do universo todo.
Há de se ter fé ao ver a criação.
Quero ajudar também!
Espero entender antes de agir,
aprender a me lamentar com limite e voltar à alegria outra vez.
Admirar o simples e poder fazer pequenas tarefas, com a força de quem faz coisas grandes.
Espero cuidar de mim.
Espero ter paz e um amor que me deixe mais bonita,
mais virtuosa,
mais capaz.
Espero que meus "nãos" ditos pelo caminho, sejam ouvidos e aceitos.
Bem-vindos todos os que querem ser respeitados, quero respeito.
Continuo a passos lentos sem pressa.
Construindo meus alicerces,
meus muros, com portas e entradas para eu poder seguir.
Aperfeiçoando minhas qualidades, tratando meus defeitos.
Continuo acreditando em mim a passos lentos sem pressa.
Ainda quero um jardim florido para olhar,
regar essas flores,
criar raiz.
Ter um bicho de estimação e uma janela que entre o sol.
De súbito acordar com um beijo de bom-dia e uma xícara de café...
e mais uma vez, um trecho de Clarice*:
"_ Não sei...
_ Não sei, não é resposta. Aprenda a encontrar tudo o que existe dentro de você."


* Trecho do livro de Clarice Lispector - Perto do coração selvagem

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Círculo

São dos poetas as palvras que ninguém diz,
um aprendiz de várias coisas,
da insensatez de um rosto triste,
das coisas que não existem,
do corpo imóvel ante a brisa do perfume de alguém.
Poetas.
Vivem instantes com rédeas,
com um "que" de suficiência,
de desmedida alegria ,
intensa.
Poetas.
São só instantes, não a busca.
De vários versos,
uns loucos,
tristes,
os que respiram pouco,
palpitantes,
alucinados,
acinzentados.
Esfoliando a palavra.
Refinando, se afinam.
São de começo e fim,
Não são óbvios, ora vivem de poucas opções.
Vão do mais humano ao mais profano,
com traços divinos,
a céu aberto são inteiros.
Coloridos,
doloridos,
refeitos.
Retornam as palavras que ninguém diz,
sempre um aprendiz.
Poetas e seus versos,
se entendem bem.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Impasse

Me chamam voz,
quando meu choro ecoa,
forte e dolorido e abandonado.
Me chamam luz quando só se vê sombra,
e algo me foge entre os dedos.
Vacilantes dias inacabados.
Me chamam flecha quando sou certeira,
e a palavra é rápida,
e o efeito cala.
Me chamam tanto quando não estou perto,
e na distância, só quero paz.
Sou dona da voz,
das coisas que viram história,
das casas,
das roupas e das tentativas.
Vi minha vida em caixas,
em copos,
pelas prateleiras,
em gavetas,
nas idas e vindas de um lugar quieto, eu.
No entanto é verdade,
o caos silêncioso,
é mais gritante do que qualquer som.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Realidade

Haveria explicação para dias sem destino?
Eles existem e parecem tão contrários a tudo que vivemos.
Uma dose de realidade interrompe sempre as horas mágicas do caminho.
Dias assim, sem destino, começam por começar.
São inúteis momentos em terra seca.
São momentos, sequer piedosos do contrário, são acusadores,
envelhecem a gente,
é o lado vivo, que dói cada vez que fisga da mente uma imagem amada.
Dias assim, só nos resta a lágrima.
Lágrima que se desprende lá de dentro, onde tudo ainda dói tanto.
É aquela sensação asfixiante do impossível,
do sonho,
da loucura,
da contemplação.
Dias assim, sem destino, terminam por terminar.
Deixam sempre algo devastado e o peso da realidade nos ombros.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Eco

Estão soterradas.
palavras que guardei.
Enterradas.
Estão sendo veladas para cumprir sua sorte.
Fim de tudo que não é dito, a morte.
Partiram ainda cheias de ecos.
Caladas ficaram, até que a memória se revelasse viva.
Não podem mais ser ditas, não as que sepultei.
Deste luto aprisionado,
que choro uma dorzinha boba,
me refaço em instantes.
Nada mais morrerá ecoando,
enquanto eu puder falar.
De sorte que tudo que eu diga,
seja perdoado,
seja inesquecível,
seja em tempo.

sábado, 8 de março de 2008

Instante

Me faço perguntas, não raro, nenhuma resposta.
Vai ver escrevo por desabafo, por solidão, por tentativas.
Por ver beleza nas palavras, por estar desprevinida, por ser indiscutível a vontade de abraçar o instante.
Vai ver quando escrevo me sinto amada, certa de que estou na história.
Não sei do que é feito o instante, mas com palavras o aprisiono.
Vai ver sou resoluta o bastante para escrever...
Perguntas que faço, intimidade que tenho comigo.
Inoportuna quando não tenho versos.
Impressionada quando leio outros versos.
Desamparada e dolorida sem as palavras sorridentes que espero tanto.
E, feliz, só feliz... quando sou lida por alguém.

terça-feira, 4 de março de 2008

Escorpião

Nada tenho de bonito, hoje é um dia enraivecido.
Não quero ser otimista.
Vou chorar meus mortos,
não ter esperança,
nem ter que acreditar para sobreviver,
nem ter que explicar nada para ninguém,
nem sorrir.
Não quero nenhum conselho,
nem versos de auto-ajuda (alías nessas horas acinzentadas, são os piores).
Otimismo e caos não combinam...
Levo uma fúria nas veias,
vontade de gritar qualquer bobagem contra as convenções,
regras,
chatices,
e ser sem medo,
sem culpa,
sem o "bendito" limite para tudo.
Nada de brandura em dias como estes.
Não oferto calma,
nem paciência,
tenho de sobra arranhões, doendo...
Também sou feita deles.
Hoje tudo é impreciso e misturado,
vago e amorfo.
Hoje me deixem ser lenta e inesperada,
Preciso do opaco,
do avesso,
da contradição,
da sombra.
Meus quereres são"noturnos",
na umidade dos pensamentos mais impróprios,
mais proibidos,
nus quando bate a luz.
Seria a vingança perfeita,
fazer tropeçar os irretocáveis.
Nada de cores claras,
irritantes,
rostos angelicais afrontando meu direito de ser asfixiante.
Hoje tenho um vácuo inexplicável e desejado,
uma solidão consentida.
Um veneno na boca.
Uma dose de maldade refinada,
áspera,
cortando em pedacinhos tudo que é delicado.
Apropriado.
Convencional.
Dispenso olhares perfuradores de comparação,
elogios abandonados na hora vazia de conversas tolas e ocas,
hipocrisias,
implacáveis dissolvem minha inteligência.
Que se calem...
Hoje há um vácuo inexplicável e desejado,
uma solidão consentida.
Um dia de nãos.
Um veneno na boca.

segunda-feira, 3 de março de 2008

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Herança

A intenção é fazer poesia, mas a lírica não combina com a verdade.
Qual herança deixaria se eu fosse morrer agora?
Minhas fotos,
minhas poesias,
minhas tentativas de domar meu coração,
um amor,
uma filha,
uma estrada interrompida,
uma lista de amigos,
um quadro que pintei um dia,
meus desenhos,
meus afetos,
deixaria minhas tentativas e não a confiança que não tenho em mim, isso eu levaria.
as coisas que guardo nas gavetas,
minhas músicas,
as coisas que escrevi e ninguém leu.
os livros que li,
meus depoimentos,
minha voz gravada em alguns registros da vida.
meus segredos, levaria, do contrário não seriam segredos.
os revelados, deixaria, para sempre ser o assunto de uma lembrança.
Mas há coisas que não posso deixar:
a imagem de uma noite de lua cheia,
o branco que vi das margaridas que gosto tanto,
o gosto de ganhar de presente um chocolate meio-amargo,
um beijo saboroso,
meus abraços, os que recebi, os que dei serão lembrados.
a sensação boa de alguém confiando em mim,
as lágrimas que recolhi,
confissões de um amigo,
o cheiro de um molho de tomate,
as lutas da minha alma,
ansiosas esperas pela felicidade,
o sol batendo no rosto,
e a infinita busca por mim mesma.
Se eu fosse morrer agora, teria vivido bem, posto que a vida é de alegria e tristeza, de encontro e desencontro, de paixões e afastamentos, de dias incrivelmente felizes e outros nem tanto.
Se eu fosse morrer agora de uma coisa saberia que o que escolhi amei e o que amei me formou e o que eu sou, eu sou!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Líquido dos sábios

Tem sol lá fora,vento e gente pelas calçadas.
Parte de mim é contente a outra, não sei...
Agora, só queria um café, cheio de charme, daqueles de Buenos Aires...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sem título

Pai,
O que posso dizer quando o que preciso é ouvir.
Justiça, paz e um abraço que me faça acreditar outra vez.
Em mim, a grande parte desiste e é tão pouco o que insiste em se refazer.
Dias estes em que só posso esperar que o sol se vá.
Que a noite chegue e eu fique aqui pensando no que Te falar.
Tudo foge.
Tudo ficou tão longe para eu chegar.
Tudo é uma saudade,
Uma lembrança,
Um deserto certo, sem água e sem sombra.
Pai,
Não sei,
Não posso,
Não quero,
Mas mesmo assim eu faço, o que não sei, o que não posso, o que não quero.
Ninguém diz que isto é oração, mas tenho um coração rasgado aqui.
Pai,
Em que parte do caminho deixei-me?
Só e sem luz,
penso na Tua cruz e uma dor imensa me aperta a garganta.
O que posso dizer?
Cuida de mim que não sei voltar.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Risco

É hora de sentir o risco,
de doar palavras,
de doer por dentro,
de medir o tempo,
de acreditar.
É um querer bonito e frágil,
um desejo de parir o mundo,
um profundo afeto marejando o que virá.
Morna ternura em meio ao estranho deserto.
Silêncio de ventos,algo promissor para olhos cansados,
estremecimentos de um choro latente no coração de quem sabe que aguenta.
Lamentos de rápidos lábios entrabertos.
O risco iminente de quem quer muito ver de perto o que mais ama.
A vida vai rasgando o peito para que o ar entre lentamente,
e nas pequenas brechas do corpo,
luz e calma serão meu alimento para a caminhada.
Quando for hora do nascimento,
quero ter em meus braços esse rebento.
Envolto em sonhos, disperto pelo meu beijo agradecido.
Em saber que estive gerando, em mim, um mundo de coragem.

Saudade

O vento bate no rosto e de repente dá uma saudade de tanta coisa.
Saudade é um "num sei que" que chega lenta e segura, quando vê já está ali, revolvendo a terra das lembranças...
Um pensamento alegre desses de infância, algo que eleva os olhos e surge cheio de verdades.
As viagens para a casa dos primos.
Os Natais coloridos e fartos de abraços e orações, que aconteciam no barracão.
As pracinhas de Tatuí em pleno calor de janeiro.
As piscinas e a jaboticabeira, carregada, que morava no quintal da minha tia. (hoje em dia, não estão mais ali, mas o cheiro ficou no ar...)
As roupas coloridas de menina, os enfeites de cabelo, os desenhos, os sorvetes...tudo tínhamos igual, só nunca fomos iguais. Muitas mulheres na família, muitas vozes agudas pelos corredores e quartos, e sempre uma música para cantar.
Café da tarde, bolo e preguiça.
Doces e visitas nas casas de todos. Brigas? também...disputa para saber com quem ficaria a prima de São Paulo.
O ar era excessivamente sincero naquela época parecia que não sofríamos, que não havia lágrima em nós, éramos sorrisos e imaginação.
Era bom viver, muito bom.
O céu era sempre azul e Deus fazia do dia o mais bonito para nós brincarmos e sonhávamos com a realidade, como se ela fosse um sonho. Descobríamos coisas e gardávamos segredos. Havia doçura e braços livres e um coração cheio de eternidade.
Todas as ruas da cidade eram bonitas e calmas, todos se conheciam e riam sob o sol do dia, pareciam libertos pelo amor e aceitavam os que vinham pelo caminho.
O grande pinheiro da praça parecia maior do que os prédios da Avenida Paulista, era alto e simpático. No Natal nada era mais bonito do que as suas "roupas" de dezembro, brilhantes, tanto que faziam disparar qualquer coraçãozinho de 8 anos.
Carregava nos braços um nenino de roupa prateada, que nunca entendi porque, vivia em uma caixa de madeira com portinha de vidro... "Menino Jesus" dizia a voz enrrugada da minha avó.
Tudo era alto e incrível.
Saudade dos maracujás doces que, não sei, ou me encantavam as flores ou por vê-los pendurados, aos montes, no quintal da minha prima.
Éramos cheios de pressa para nos ver, meninos e meninas e a distância valia, pois a festa do encontro nos fazia seres amados.
Sinceramente, vivíamos e sabíamos que éramos abençoados, quando a noite nos adormecia tarde, já exaustos de tanto pensar nas coisas que queríamos para o dia seguinte.
O dia seguinte era sempre glorioso e misturado às nossas meninices, víamos o horizonte dos campos e plantações de uma cidade do interior e sabíamos, que éramos como as árvóres, os pássaros e todas as coisas que nasciam ali. Sabíamos que chegaria o momento de crescer, mas sempre deixávamos isso para depois, pois sentir saudade é para quem, agora, adormece e revivive, nos sonhos, a realidade dos dias quentes de janeiro com a família.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Cantos de Sereia

Há coisas que não se explicam, elas são.
São misturas estranhas, feitas de gente, doçura e distância.
Há coisas que sempre estiveram ali bastou o universo se movimentar.
Bastou sentir o ar e o coração acelerar.
Bastou sentir o gosto e o sorriso repleto de muitos outros sorrisos.
Há medo, mas quem explica seguir mesmo assim?
Quem pode explicar o quanto coube em um abraço?
Quem pode explicar o que faz tanta falta?
As loucuras de alguém, que ninguém sabe que é insano.
Desatinos da imperfeição.
Perfeitas horas de bem-querer, bem mais do que se quer.
Insanas carências disfarçadas de culpa.
Impiedosas doses de saudade e ausência.
Na noite, dormir com a lembrança e acordar feliz.
A memória aprovou cada detalhe.
Há coisas que sempre estiveram ali no ar da tarde,
no café,
na barra de chocolate,
no compasso do dia-a-dia.
No desencontro,
nas metáforicas coreografias dos olhos,
na música escolhida para ser tema de uma história.
E naquele não que na verdade é sim.
Existem coisas que são e se encontram nos tais movimentos que o universo faz.
Não chegam no vento,
ou por intermédio de alguém,
nem tão pouco aparecem do nada.
Sempre estiveram ali sendo atraidas até seu destino.
Não se explicam, são "cantos de sereia" que inebriam a gente.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Conquista

Me faço em versos para, quem sabe, libertar o tempo.
São desses ventos que preciso tanto,
os que corram rápido e me façam pássaro.
Quero o ar e as coisas leves,
nuvens e garoa nas tardes quentes.
Suco gelado e pés no chão.
São coisas apressadas que tenho,
chegam e querem ir,
são turbilhões de risos e lágrimas,
são confusões e confissões,
são esperanças de se ter asas para chegar mais cedo.
Um abrir de braços para o que veio assim, arrebatado.
Desisti da luta inglória,
das falsas vitórias que só duram uma manhã.
Do trânsito de palavras e do trajeto que aprendi.
Vai tempo e volte aqui.
Vai tempo varrer o resto das folhas amareladas dos poemas de outono.
Quero sol e uma janela com vento...
Quero a pressa que há na ânsia dos olhos,
em ver de perto o que mais ama.

*Obra publicada na Antologia Poética Sentido Inverso- Editora Andross